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Geopolítica

Page history last edited by Nathália Krieck 11 years, 10 months ago

GEOPOLÍTICA

 

A palavra geopolítica foi criada no início do século XX, mais precisamente em 1905, num artigo denominado “As grandes potências”, escrito pelo jurista sueco Rudolf KJELLÉN. (Mas atenção: a palavra geopolítica é que foi criada por Kjellén, pois não há dúvida que essa temática é bem mais antiga, ou seja, as grandes preocupações geopolíticas não surgiram no início do século XX (preocupações sobre o que é e quem é uma potência mundial, como se dá a disputa mundial pelo poder entre os Estados, que estratégias seriam adequadas para tal ou qual Estado tornar-se a potência regional nesta ou naquela parte do globo, etc.). Isto é, já existia anteriormente juízos ou análises a respeito do poderio de cada Estado, das grandes potências mundiais ou regionais, com a importância ou o uso do espaço geográfico na guerra ou no exercício do poder estatal.

A geopolítica, enfim, conheceu um período de grande expansão no pré-guerra, na primeira metade do século XX, tendo se eclipsado — ou melhor, ficado no ostracismo — depois de 1945. Ela sempre se preocupou com a chamada escala macro ou continental/planetária: a questão da disputa do poder mundial, que Estado (e por quê) é uma grande potência, qual a melhor estratégia espacial para se atingir esse status, etc. Existiram “escolas (nacionais) de geopolítica”, em especial dos anos 1920 até os anos 1970, em algumas partes do mundo, inclusive no Brasil.

A partir de meados dos anos 1970 a geopolítica sai do ostracismo. Ela volta a ser novamente estudada. Só que agora, ao invés de ser vista como “uma ciência” ou como “uma técnica/arte a serviço do Estado”, ela é cada vez mais entendida como “um campo de estudos”, uma área interdisciplinar enfim (tal como, por exemplo, a questão ambiental). Em várias partes do globo criaram-se — ou estão sendo criados — institutos de estudos geopolíticos e/ou estratégicos, que via de regra congregam inúmeros especialistas: cientistas políticos, geógrafos, historiadores, militares ou teóricos estrategistas, sociólogos e, como não podia deixar de ser (namedida em que a “guerra” tecnológica-comercial hoje é mais importante que a militar) até mesmo economistas.

Enfim, a palavra geopolítica não é uma simples contração de geografia política, como pensam alguns, mas sim algo que diz respeito às disputas de poder no espaço mundial e que, como a noção de PODER já o diz (poder implica em dominação, via Estado ou não, em relações de assimetria enfim, que podem ser culturais, sexuais, econômicas, repressivas e/ou militares, etc.), não é exclusivo da geografia.

A geografia política, dessa forma, também se ocupa da geopolítica, embora seja uma ciência (ou melhor, uma modalidade da ciência geográfica) que estuda vários outros temas ou problemas. Exemplificando, podemos lembrar que a geografia também leva em conta a questão ambiental, embora esta não seja uma temática exclusivamente geográfica. Mas a geografia — da mesma forma que as outras ciências mencionadas — não se identifica exclusivamente com essa questão, pois ela também procura explicar outras temáticas que não são rigorosamente ambientais tais como, por exemplo, a história do pensamento geográfico, a geografia eleitoral, os métodos cartográficos, etc.

Esquematizando, podemos dizer que existiram ou existem várias interpretações diferentes sobre o que é geopolítica e as suas relações com a geografia política. Vamos resumir essas interpretações, que variaram muito no espaço e no tempo, em quatro visões:

 

1. “A geopolítica seria dinâmica (como um filme) e a geografia política estática (como uma fotografia)“. Esta foi a interpretação de inúmeros geopolíticos anteriores à Segunda Guerra Mundial. Segundo eles, a geopolítica seria uma “nova ciência” (ou técnica, ou arte) que se ocuparia da política ao nível geográfico, mas com uma abordagem diferente da geografia: ela seria “mais dinâmica” e voltada principalmente para a ação. Eles viam a geografia como uma disciplina tradicional e descritiva e diziam que nela apenas colhiam algumas informações (sobre relevo, distâncias, latitude e longitude, características territoriais ou marítimas, populações e economias, etc.), mas que fundamentalmente estavam construindo um outro saber, que na realidade seria mais do que uma ciência ou um mero saber, seria um instrumento imprescindível para a estratégia, a atuação político/espacial do Estado.

 

2. “A geopolítica seria ideológica (um instrumento do nazi-fascismo ou dos Estados totalitários) e a geografia política seria uma ciência“. Esta foi a interpretação de alguns poucos geógrafos nos anos 1930 e 40 e da quase totalidade deles (e também de inúmeros outros cientistas sociais) no pós-guerra. Um nome bastante representativo desta visão foi Pierre George, talvez o geógrafo francês mais conhecido dos anos 50 aos 70, que afirmava que a geopolítica seria uma “pseudo-ciência”, uma caricatura da geografia política. Esta visão foi praticamente uma reação àquela anterior, que predominou anteriormente, no período pré-Segunda Guerra Mundial. Como toda forte reação, ela caminhou para o lado extremo do pêndulo, desclassificando completamente a geopolítica (da qual “nada se aproveita”, nos dizeres de inúmeros autores dos anos 50 e 60) e até mesmo se recusando a explicá-la de forma mais rigorosa.

 

3. “A geopolítica seria a verdadeira (ou fundamental) geografia“. Esta foi a interpretação que Yves Lacoste inaugurou com o seu famoso livro-panfleto A Geografia isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Nessa visão, a geografia de verdade (a “essencial” ou fundamental) não teria surgido no século XIX com Humboldt e Ritter, mas sim na antiguidade, junto com o advento dos primeiro mapas. O que teria surgido no século XIX seria apenas a “geografia dos professores”, a geografia acadêmica e que basicamente estaria preocupada em esconder ou encobrir a importância estratégica da verdadeira geografia, da geopolítica enfim. A geopolítica — ou geografia dos Estados maiores, ou geografia fundamental — existiria desde a antiguidade na estratégia espacial das cidades-estados, de Alexandre o Grande, por exemplo, de Heródoto com os seus escritos (obra e autor que, nessa leitura enviesada, teria sido um “representante do imperialismo ateniense”). Esta interpretação teve um certo fôlego — ou melhor, foi reproduzida, normalmente por estudantes e de forma acrítica — no final dos anos 1970 e nos anos 80, mas acabou ficando confinada a um pequeno grupo de geógrafos franceses que, inclusive, em grande parte se afastaram do restante da comunidade geográfica (ou mesmo científica) daquele país. Existe uma visível falta de evidências nessa tese — de comprovações, e mesmo de possibilidade de ser testada empiricamente (inclusive via documentos históricos) — e, na realidade, ela surgiu mais como uma forma de revalorizar a geografia, tão questionada pelos revoltosos do maio de 1968, tentando mostrar a sua importância estratégica e militar.

 

4. “A geopolítica (hoje) seria uma área ou campo de estudos interdisciplinar“. Esta interpretação começa a predominar a partir do final dos anos 1980, sendo quase um consenso nos dias atuais. Não se trata tanto do que foi a geopolítica e sim do que ela representa atualmente. E mesmo se analisarmos quem fez geopolítica, os “grandes nomes” que teriam contribuido para desenvolver esse saber, vamos concluir que eles nunca provieram de uma única área do conhecimento: houve juristas (por exemplo, Kjellén), geógrafos (Mackinder), militares (Mahan, Haushofer) e vários outros oriundos da história, da ciência política, da economia, da engenharia, etc. Não tem nenhum sentido advogar o monopólio desse tipo de estudo — seria o mesmo que pretender deter a exclusividade das pesquisas ambientais! –, já que com isso estaríamos desconhecendo a realidade, o que já se fez e o que vem sendo feito na prática. Existem trabalhos recentes sobre geopolítica, alguns ótimos, oriundos de geógrafos, de cientistas políticos (Luttuak…), de historiadores (H. Kissinger, P. Kennedy…), de sociólogos (Huntington…) de militares, etc. E ninguém pode imaginar seriamente que num instituto ou centro de estudos estratégicos e/ou geopolíticos devam existir apenas geógrafos, ou apenas militares, ou apenas economistas ou juristas. Mais uma vez podemos fazer aqui uma ligação com o nosso tempo, com o clima intelectual do final do século XX e inícios do XXI. A palavra de ordem hoje é interdisciplinariedade (ou até transdisciplinariedade), pois o real nunca é convenientemente explicado por apenas uma abordagem ou uma ciência específica. O conhecimento da realidade, enfim, e mesmo a atuação nela com vistas a um mundo mais justo, é algo muito mais importante do que as disputas corporativistas.

 

 


Fonte:
http://chicomarchese.com/a-geografia/o-que-e-geopolitica-e-geografia-politica/

 

 

LINK DO VÍDEO: http://www.youtube.com/watch?v=ZdTFQafmB14

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